Por que Lula, “gêmeo” de Mélenchon, não pode ser a solução

Os ex-presidentes Lula (2003-2011) – candidato à presidência do Brasil em outubro próximo – e Dilma Rousseff (2011-2016) manifestaram ontem, dia 5, o seu apoio a Jean-Luc Mélenchon para a eleição presidencial francesa. Foi o que anunciou o LFI (La France insoumise), partido de extrema-esquerda que o político representa. Lula e Dilma justificaram o gesto por “sua gratidão a Mélenchon, que visitou o camarada em 2019 quando este estava preso em Curitiba por corrupção”. Será que aquela visitação “turístico-política” interesseira e os falsos ideais decantados pelos dois histriões, são razões para que ofereçam sustentação a um dos três candidatos que constituem uma verdadeira ameaça à democracia na França?

Trappes, 5 de abri, 2022. Meeting de Jean Luc Melenchon e seu holograma.

“Expressamos nosso apreço e gratidão pela solidariedade irrestrita que os camaradas da LFI (La France insoumise) sempre manifestaram ao Partido dos Trabalhadores e ao povo brasileiro nos momentos mais difíceis para a democracia em nosso país”, escreveram Lula e Dilma em um comunicado traduzido no site do Parlamento da União Popular.

“Não esqueceremos a sua firme posição diante do golpe contra a presidente Dilma e da condenação injusta e ilegal do presidente Lula”, acrescentaram os dois ex-chefes de Estado. E concluíram: “Nos dias eleitorais desta semana, desejamos sucesso ao camarada Jean-Luc Mélenchon e ao LFI, que se inscrevem na luta pela paz, a autodeterminação dos povos, a justiça e a igualdade de direitos”.

As coisas não são bem assim

Ora, as coisas não são bem assim. Jean-Luc Mélanchon, embora tenha se dedicado a dourar a sua imagem já muito desgastada nos últimos anos – inclusive por violência, como a tentativa de forçar passagem e insultos contra policiais e magistrados durante busca na sede do seu partido em Paris – não se inscreve de forma alguma nos ideais decantados por seus demagógicos amigos brasileiros.

No vídeo, Jean-Luc Mélenchon tenta forçar passagem, agride e insulta policiais e magistrados durante busca na sede do seu partido em Paris, em 2018. Este é o homem que Lula e Dilma gostariam de ver como “chefe de Estado”. 

Sobre a OTAN, Ucrânia, Estados Unidos, Europa, coletes amarelos, “mídiacracia”, Síria, aposentadoria, Didier Raoult, hidroxicloroquina, complacência com o islamismo e Putin (entre outros), Jean-Luc Mélenchon encontra-se de pleno acordo com a extrema-direita.

Mélenchon recusa o nome de ditadura em referência a Cuba, Venezuela ou Rússia. Encontra-se ideologicamente seduzido pela verticalidade do poder que, de Castro a Maduro, de Putin a Assad, lhe parece estranhamente mais democrático que o sistema liberal da França, seu próprio país.

Aqui estão os adoradores de Putin, três soberanistas que não se importam com a invasão ilegal de um país soberano como a Ucrânia:

1) Éric Zemmour, poutinólatra ideológico que vê na Rússia um modelo alternativo e odeia a União Europeia.

2) Marine Le Pen, oportunista poutinólatra cujo partido, cheio de dívidas, depende diretamente do Kremlin.

3) Jean-Luc Mélenchon, poutinólatra “munichois” (que é como se chamam os partidários do totalitarismo, iguais aos defensores dos acordos de Munique durante o Terceiro Reich), antiamericano pavloviano que toma o aliado como inimigo e vice-versa.

Gêmeos

Éric Zemmour, Marine Le Pen e Jean-Luc Mélenchon ficam muito constrangidos a cada vez que os jornalistas lhes perguntam como é que conseguiram condenar, ontem, os motivos que os americanos se deram para ir à guerra no Iraque e validar, hoje, as desculpas que os russos inventam para invadir a Ucrânia.

Mélenchon não representa a esquerda. Embora enfraquecida, a esquerda francesa existe e, até mesmo o brilhante e esclarecido Fabien Roussel, igualmente candidato à presidência pelo partido comunista francês (PCF), não se identifica de forma alguma com o LFI, cuja filosofia ele considera obsoleta, da “época soviética”. Ao contrário de Lula e Mélenchon, Roussel nunca apoiou as ditaduras.

Por que Roussel comunista (e democrata) que hoje apoia a OTAN e a Ucrânia, não é amigo de Lula? Por que Lula não apoia Roussel? Por que Lula não apoia a socialista Anne Hidalgo que também não suporta os ditadores e prega a democracia? Por que Lula apoia a extrema-esquerda fascinada pelo “poder vertical”, tanto quanto ele mesmo? Ninguém se pergunta?

Mélenchon é idêntico à extrema-direita, exatamente igual em ódio, violência, acusação, antimídia. Ao contrário da esquerda e direita tradicional, Jean-Luc Mélenchon é uma ameaça à democracia. 

Até a próxima, que agora é hoje, e aos que pensam que Lula é a alternativa, eu pergunto: como é que o gêmeo brasileiro de Jean-Luc Mélenchon que, por sua vez, é gêmeo da extrema-direita, pode ser a solução para afastar Jean-Luc Bolsonaro?

Toulouse, 3 de abril 2022 – Meeting de Jean-Luc Mélenchon FOTO: Vincent NGUYEN / Riva Press

Lula e Mélenchon são Munique

Foi em Munique que nasceu o PT alemão (DAP) após a Primeira Guerra Mundial, ao qual Hitler se juntou em 1919. 

Mélenchon em Curitiba, 2019 © HEULER ANDREY / AFP

Um ano depois, o movimento virou partido e mudou o nome para Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP). 

O famoso golpe fracassado de 1923 na cervejaria, e o julgamento que se seguiu, aumentaram a notoriedade do jovem líder. Hitler foi condenado e enviado para a prisão, onde escreveu Mein Kampf. 

Munique já havia concentrado ideólogos antes da Primeira Guerra Mundial.

“Luz face à decadência e ao obscurantismo”

Mesmo que se queira “relativizar” as suas declarações, Luiz Inácio Lula da Silva elogiou Adolf Hitler e o aiatolá Khomeini, de fato.

Defendeu as ditaduras cubana, venezuelana e nicaraguense (inacreditavelmente, comparou o tempo de ditadura na Nicarágua com o tempo de governo da chanceler alemã Angela Merkel). 

Adorou Ortega, Chávez, Castro, Maduro e Evo Morales. 

Fortaleceu as relações do Brasil com a Coreia do Norte (iniciadas por F. H. Cardoso, deve-se dizer) e criou a ligação com a China comunista, recentemente qualificada por Dilma, como “luz face à decadência e ao obscurantismo atravessados pelas sociedades ocidentais.”
 
Por interesse, evidentemente, recebeu e abraçou Mahmoud Ahmadinejad, o monstruoso presidente do Irã, racista e negacionista do Holocausto que chamou Israel de “tumor”. Sujeito asqueroso, segundo o qual, “no Irã não existem homossexuais.”

 

Ora, Lula tem um grande amigo francês: o deputado Jean-Luc Mélenchon, candidato da extrema-esquerda – sem nenhuma chance de chegar à presidência da França – que até mesmo atravessou o Atlântico para visitá-lo na cadeia, em Curitiba (foto). 

Mélenchon tem um percurso esquisito. Começou trotskista, virou socialista mitterrandista, enveredou pelo socialismo mole e acabou na extrema-esquerda pura e dura. É um homem violento e controvertido. 

Se recusa a ajudar a Ucrânia

Ontem, Mélenchon foi vaiado na Assembleia Nacional, em Paris. 

Ali, ele preside o seu partido extremista, o LFI, cuja ideologia tem muitos pontos em comum com as dos também candidatos, Marine Le Pen e Eric Zemmour, ambos da extrema-direita, assim como as de outros políticos no mundo, inclusive no Brasil. 

Zemmour, por exemplo, é contra o corredor humanitário, na França, para os refugiados ucranianos. E o atroz presidente brasileiro de extrema-direita escolhe a “neutralidade” oportunista e, em vez de condenar uma invasão ilegal, a “deplora”, alegando – sem nenhuma vergonha – que “não quer sofrer as consequências aqui, uma vez que depende muito dos fertilizantes russos.” 

Mélenchon, grande amigo de Lula, foi vaiado porque:

  1. Apoiou Assad, Castro, Putin, Chávez e Maduro.
  2. Foi um dos artesãos do Islamo-gauchisme (Islamo-leftism)
  3. Estava errado em cada uma de suas previsões sobre a invasão russa. 
  4. Também de certa forma ficou “neutro” e se recusa a ajudar a Ucrânia. 
  5. Como todos os esquerdistas, traça um paralelo vergonhoso entre a OTAN e a Rússia, alegações perfeitamente desmentidas pela própria organização. 

Até a próxima, que agora é hoje, Mélenchon, Lula e Bolsonaro – quase um século depois – são Munique. Sendo que Lula é Munique, sobretudo na conversa fiada de cervejaria. E Bolsonaro gostaria muito de tentar o golpe em 2022, como Hitler em 1923, atirando no teto de uma Burgebräukeller!