Natal consciente

Enquanto desejo aos amigos e leitores queridos um feliz, tranquilo, afetuoso, amável, amigo, amoroso, benéfico, benigno, bom, caridoso, carinhoso, clemente, compassivo, benevolente, cordial, delicado, fraternal, generoso, gentil, humano, indulgente, afável, magnânimo, manso, meigo, nobre, piedoso, sensível, suave, terno e jubiloso Natal…

Da mesma forma torço para que tenham força, virtuosidade, energia, eficiência, propulsão, meditação, elevação, festa, farra, descanso, diversão, paciência, harmonia, amizade, saúde, sabedoria, sucesso, aventura, coragem, intuição, criatividade, sorte, sinergia, tolerância, curiosidade, crescimento, originalidade, imersão, imaginação, prosperidade, brilho, habilidade, inspiração, sedução, revolução, ingenuidade, equidade, humildade, talento, simplicidade, dedicação, carisma, generosidade, compreensão e alegria no Novo Ano de 2024!

Só que, no mesmo momento em que almejo tudo isso, há grupos e pessoas com a crença de que nós, judeus e cristãos, devemos morrer. Até a próxima, que agora é hoje e festejemos Natal e Chanucá, sim. Com muito contentamento, sempre. Porém, conscientes e vigilantes. Para que extermínios deliberados de comunidades, por causa de suas religiões, nunca mais se repitam!


Feliz Chrismukkah!

 

Não comemorei

Não que meu próprio aniversário tenha alguma importância especial para mim. Nunca organizei “auto-celebração” e convidei pessoas. Considero isso o suprassumo do cabotinismo. Todos anos comemoro na intimidade, mais pelo contato virtual e carinhoso com a família e os amigos que hoje estão longe, do que pela data em si. Desta vez, por força maior, resolvi dispensar até mesmo o bolo, a alegria e o espumante. O afago das pessoas, disso não prescindo! 

“Dia do Perdão”, por Isidor Kaufmann (cerca de 1907).

Por que dispensei? É que, desta vez, o Senhor responsável por nossa existência na Terra, não só estabeleceu que o dia em que completo mais um ano é de Yom Kippur, como, ainda por cima, é nesse mesmo momento que decide o nosso destino. Quer dizer, justo agora Ele estraga a minha modesta festinha, fazendo o balanço do último ano, resolvendo se renova ou não nosso contrato com o planeta e determinando se continuamos, ou não, inscritos no Livro da Vida ou se devemos nos despedir de tudo e de todos.

Fora que o Yom Kippur, dia mais sagrado do ano judaico, Dia da Expiação e do Perdão, é celebrado sob o signo do remorso, luto, abnegação e jejum. Mesmo quem se comportou direito fica de castigo durante 25 horas neste longo dia, 25 de setembro, rezando sem comer e beber, sem Internet e celular. No final, muitos vão à Sinagoga, de mau humor e mau hálito, ouvir o Shofar e o Kol Nidrei.

Belo ambiente para aniversário!

Culpa de Moisés

Culpa dele, sim. Depois que Deus lhe revelou os Dez Mandamentos no topo do Monte Sinai, Moisés retornou aos israelitas. Só que, durante sua longa ausência, estes começaram a adorar um falso ídolo, o tal do influenciador “bezerro de ouro”.

Dizem que, furioso, o líder religioso, juiz, legislador e profeta teria quebrado as tábuas da Lei e voltado ao Monte, onde implorou o perdão de Deus para si e ao seu povo. Ninguém sabe como é que ele convenceu o Senhor. O fato é que conseguiu uma segunda cópia dos Dez Mandamentos e, mesmo que não tenha sido em chave USB, voltou com o indulto.

Como você pode ler aqui, o Yom Kippur marca o fim de um período de penitência de 10 dias depois do Rosh Hashaná (Ano Novo). De acordo com a fé judaica, nesses dias é possível fazer como Moisés e – através da oração, caridade e do arrependimento – influenciar os planos de Deus para o próximo ano. Como em tudo que é judaico, há muita negociação. E como as coisas nem sempre são possíveis, uma boa ideia também seria convencer nosso Senhor de castigar mais baratinho, perdoando em suaves prestações.

Porque, para quem não sabe, o Senhor é igualmente um editor implacável. De acordo com a Mishná (a chamada Torá oral), no texto da lei que rege a vida cotidiana judaica, durante a passagem ao Ano Novo, Ele publica o nome de todos em três livros: um que contém as boas pessoas, outro que é dedicado às más e o terceiro com as que não são nem totalmente más nem completamente boas. O final das histórias é fácil de adivinhar. Mas a distribuição nas livrarias deixa a desejar. E a crítica literária, ignora. Não é grave. Para Deus, assim como para certos ótimos editores, muitos deles quase artesanais, livros não são apenas “produtos”.

Portanto, Deus não é como a Companhia das Letras que – em falso “processo democrático” chama autores para enviarem manuscritos durante dois dias, em duas horas apenas, criam esperanças nos coitados, carregam o sistema, provavelmente fazem geo-restrição e bloqueiam o acesso ao site, impedindo-os de se inscreverem. Não! Deus deixa todo mundo se inscrever, de fato. E despeja da Terra só quem é mau escritor. Não vai tardar para que os responsáveis por essa perversa e demagógica “operação editorial de comunicação”, segundo o Pentateuco, também fiquem inscritos no “livro dos maus”.

Até a próxima, que agora é hoje, sem bolo, alegria e espumante. Espero que todos sejamos inscritos no livro da vida, para continuarmos a nos encontrar até o Yom Kippur que vem e muitos outros ainda! L’Chaim!

“Moisés e os 10 Mandamentos”, Rembrandt van Rijn (1659)
“Moisés apresenta as Tábuas da Lei”, Philippe de Champaigne (c. 1648)
“Moisés”, por Michelangelo (c. 1513 – 1515)