Uma das muitas maneiras de ver o antissemitismo

Quando eu era jovem e reclamava que alguém estava zangado comigo sem razão, a sábia decana da família, minha avó, dizia: “Se você não fez nada, esta pessoa só pode estar mal pelo que ELA fez. Você não tem nada a ver com isso…” Graças àquela observação sutil, difícil de entender na época, penso que esta é uma das melhores maneiras de julgar, nos dias de hoje, o antissemitismo. 

Não compreendia muito bem o raciocínio, mas sempre o acatei. Mesmo porque ele confortava minhas dúvidas.

No final do livro E Você Não Voltou, da cineasta francesa Marceline Loridan-Ivens (1928-2018), encontrei um novo e verdadeiro sentido para a explicação, que agora pertence ao inventário de minhas “psicologias pessoais”, como está em meu Direi Tudo.

No seu relato póstumo ao pai, morto em Auschwitz, a autora – que sobreviveu a dois campos de concentração – dá a chave do mal-estar que, a meu ver, reafirmará o antissemitismo para sempre: “Eles não nos perdoarão jamais o mal que nos fizeram.

A diferença em relação à minha juventude é que, mesmo eu sabendo que “não tenho nada a ver com isso”, a sábia decana Marceline Loridan-Ivens não consegue confortar os meus porquês!

Marceline Loridan-Ivens

BÔNUS

Desta vez, bônus aos leitores queridos. Um lindo e emocionante relato que encontrei, sobre o momento da liberação do Holocausto, por uma sobrevivente… E de como a vida dela mudou:

“Eu me segurava na grade daquela usina, sabendo que, finalmente, estaria livre. Vi um carro estranho descendo a colina, com a estrela branca no capô. Adivinhei rapidamente que os dois homens em uniforme, sentados ali, eram do exército americano. Um deles, aproximou-se. Olhei-o com surpresa e incredulidade. Era inimaginável deparar com alguém que batalhara por nós. Sentia muito medo. Chamei-o e disse: “somos judeus”. Ele permaneceu em longo silêncio e, depois, respondeu: “eu também”. Foi o momento mais feliz de minha vida. Ele pediu para que eu viesse, abrindo-me a porta do seu carro. Hoje, há 50 anos, ele continua abrindo-me a porta… Enquanto meu marido.”

Até a próxima, que agora é hoje, bravo aos aliados na 2a Guerra, aos Justos entre as nações e ao grande Exército de nossa pátria judaica ancestral – Israel – que, hoje, nos defende contra a continuação do mal!

O que crianças deportadas têm a ver com Lula?

Fiz esta foto ontem, dia 16, com lágrimas nos olhos. A placa-homenagem encontra-se no parque, onde costumo caminhar. Presas pela polícia do governo de Vichy, cúmplice do ocupante nazista, mais de 11.000 crianças foram deportadas na França, de 1942 a 1944. Terminaram assassinadas em Auschwitz, porque eram judias. Mais de mil, viviam no meu bairro. Entre elas, 133 eram bebês e crianças pequenas, cujos nomes e idades estão ali. Desde recém-nascidos até criancinhas de 7 anos, nem tiveram tempo de frequentar uma escola. Abaixo, lê-se: “Passante, leia o nome destes pequenos, a sua memória é a única sepultura que eles têm”.

Não é por acaso que tantos, na França e Europa, estão chocados com as declarações e posições do presidente brasileiro. Ontem, ele figurou nas críticas de mesas redondas, nos editoriais de alguns jornais como o suíço Le Temps (importante publicação humanista) e foi até mesmo alvo de ironia no Jornal das 8, de France 2.

Admite-se, de um lado, que a eleição de Lula representou um alívio para os defensores da democracia no Brasil, mantendo uma certa ordem mundial, baseada nos direitos. De fato, o governo eleito também tirou o país do isolamento de quatro anos e faz negociações importantes para a economia do país. Por outro lado, no entanto, sua entrada em cena parece criar mais problemas do que êxitos.

Antiamericanista obtuso

Dizem que, além de tomar sol e fazer exercícios físicos, Lula “leu muito” na prisão de Curitiba. Precisa ver qual foi a leitura, porque o, agora, presidente brasileiro parece continuar o mesmo ex-sindicalista ignorante. Antiamericanista, anti-imperialista obtuso, passa o seu tempo a negar a História e a adorar ditadores.

E, no entanto, não faz muito tempo que graças aos Estados Unidos e ao sacrifício de milhares de americanos, o nazismo foi vencido e a Europa liberada. A democracia é salva até hoje por este país que, felizmente, também ajuda a Ucrânia a se defender de um invasor ilegítimo e totalitário, mantendo a força do bloco democrático europeu.

O presidente chinês Xi Jinping e seu homólogo brasileiro Luiz Inacio Lula da Silva, no Palácio do Povo em Pequim, dia 14 de avril, 2023. Foto: afp.com/Ken Ishii

Com tudo isso, o presidente brasileiro ousa declarar que “os EUA incentivam a guerra.” Estando na China igualmente totalitária, e aliada da Rússia, atreve-se a provocar a maior democracia do planeta com a reflexão, mais ideológica do que econômica, sobre o “dólar”. E o “Clube da paz”, então? Que balela…

Gente ruim

Hoje, dia 17,  depois de ter passado pelos Emirados Árabes – monarquia absolutista do Oriente Médio, “amiga” dos Bolsonaros, onde, como alguém disse, “não se vota nem para síndico” –  Lula recebe mais um criminoso asqueroso chamado Serguei Lavrov, que muito provavelmente também será condenado no Tribunal Internacional de Haia, igual ao seu chefe. Lula acolhe um chanceler vindo de onde,  há duas décadas, um ex-espião corrói a democracia e transforma seu país em ditadura. Brics “oblige”.

Se o leitor se lembra, há um ano exatamente, Israel exigiu pedido de desculpas pelas declarações deste ministro das Relações Exteriores da Rússia, homem de Putin. Em entrevista à TV italiana, ele foi questionado: “como é possível a Rússia dizer que precisa ‘desnazificar’ a Ucrânia, uma vez que o presidente, Volodymyr Zelensky, é judeu?” Lavrov respondeu: “Hitler também tinha sangue judeu. Isso não significa absolutamente nada.” E acrescentou: “os antissemitas mais raivosos são os próprios judeus”.

Lula sempre recebeu gente ruim. Mas a visita do “monstro do Kremlin” acontece bem debaixo do nariz da Europa e dos Estados Unidos, que certamente esperam para ver qual insensatez sairá, desta vez, do desbocado presidente brasileiro.

Alerta

Esta placa-homenagem aos bebês e crianças é um alerta aos que se alinham a ditaduras como a de Xi Jinping e, por tabela, à Rússia, à sanguinária e teocrática Arábia Saudita, Coreia do Norte, Catar e  Síria, entre outras aliadas da China.  Mesmo que certos acordos e promessas entre Brasil e este país possam ser positivos – como o de infraestrutura, saúde, pesquisa científica, ambiente, agronegócio, carros elétricos etc -, toda e qualquer autocracia representa o ressurgimento do totalitarismo soviético e do nacional socialismo nazista. Mesmo a da Venezuela e as africanas. Não são flores que se cheire.

Até a próxima, que agora é hoje, e é sempre, e principalmente, a incultura, a negação ou a deformação da História que conduzem à irresponsabilidade política e ao desastre geopolítico. Está cada vez mais difícil acreditar que “o Brasil volte” a ser o “país do futuro” que já foi, um dia.