Meteorologia espacial

Não sei que meteorologista gosto menos. Se aquela da televisão que sorri quando diz que a temperatura vai atingir 41°C (como agora) ou a “Mulher do Tempo Espacial”, tipo Dra. Tamitha Skov, americana que prevê e analisa as coisas ruins na heliosfera e exosfera.

Só sei que eu deveria ter seguido o twitter da Dra. Tamitha, para saber de antemão, por quê o meu computador, e tudo que é elétrico, ficou fora do ar por alguns segundos aqui na minha casa, ontem à noite, dia 18.

Soube apenas esta manhã. Nada de muito importante. Foi apenas uma tempestade solar que atingiu o planeta Terra. Mas, o que é esse fenômeno cada vez mais frequente, responsável pela aurora boreal e pelo nocaute do meu computador?

É uma cobrinha de fogo que o sol lança em direção à Terra quando ele está de saco cheio e agitado, quero dizer, está com acúmulo de energia na sua superfície, assim como a maior parte dos brasileiros que não aguenta mais este governo.

E não é “tempestade em copo d’água”, é tempestade magnética que pode varrer o nosso planeta, gerando falhas sérias nas redes de telecomunicações.

Li que foi uma enorme explosão solar, de acordo com os cientistas da NASA, que escapou no dia 14 de julho, em nosso rumo, e chegou aqui 4 dias atrasada, é claro, para comemorar a festa nacional francesa.

Essas erupções solares projetam plasma solar (ou CME – ejeção de massa coronal) em velocidades muito altas no espaço, podendo atingir a atmosfera superior da Terra e interagir com seu campo magnético. Que consequências?

Imagine quando você sopra uma bolha de sabão e ela muda de forma. É isso que acontece quando uma EMC atinge o campo magnético da “bolha atmosférica” terrena. Geralmente, os efeitos duram de alguns minutos a várias horas e as áreas mais afetadas são as regiões polares e equatoriais.

Há consequências possíveis em redes de telecomunicações, sinais de rádio e GPS, e em redes elétricas. Além disso, a órbita de alguns satélites pode precisar ser corrigida, controlada a partir do solo.

Ainda bem que os eventos extremos são bastante raros. Não é para nos alarmarmos. Mas, pelo que li, como essa nossa estrela entrou em um novo ciclo de onze anos, os fenômenos vão se multiplicar até atingir um belo pico no verão de 2025. Hum…

Até a próxima, que agora é hoje e, em todo caso, dá para entender por que Picasso (1881-1973) dizia que “alguns artistas convertem o sol em ponto amarelo e outros transformam um ponto amarelo em sol”. Porque Victor Hugo (1802-1885) declarava que “um sol não eclipsa um sol. Um sol jamais é eclipsado por luas.” Porque Leonardo (1452-1519) falava que “o sol nunca vê a sombra”. E também porque, quase 500 anos antes de Cristo, Heráclito observava que “o sol é novo todos os dias”. É porque o sol é caprichoso como um artista!

Onde estava eu no dia 20 de julho de 1969?

Paris. A mesma cidade onde, 50 anos depois dos primeiros passos do Homem sobre o nosso único satélite natural, está a gigantesca exposição ‘A Lua. Da viagem real às viagens imaginárias’, no Grand Palais até o dia 22. Desde documentos, objetos científicos, reproduções de artefatos usados pelos astronautas, até peças de civilizações africanas, árabes e do Extremo Oriente, trata-se de um apanhado também e principalmente artístico. Da antiguidade à arte contemporânea, algumas obras foram realizadas especialmente para a mostra. São mais de 190 trabalhos de Marc Chagall, Man Ray, François Morellet, Joan Miró, Auguste Rodin, Félix Vallotton, além de artistas brasileiros como Angela Detanico e Rafael Lain. Embora o tema deixe a desejar em termos de ‘critério estético’, juntando obras não por analogia interna mas por assunto (o que, do ponto de vista artístico, não dá certo), as obras – examinadas não em conjunto mas ‘uma a uma’ – incorporam as visões diversas, a fascinação e os sentimentos que a lua inspirou através dos séculos.

Onde estava eu naquele dia? Depois do pequeno relato, vídeos e imagens da exposição no Grand Palais completam este texto.

 

Onde estava eu no dia em que o Homem pisou na Lua?*

Paris. Quando minha mãe decidiu ir embora de vez após uma longa estadia, eu que estava lá só para visitá-la, acabei por ficar. Apenas alguns meses depois da minha chegada, ela devolveu a bela casa alugada ao proprietário e me colocou num pequeno hotel ali mesmo, perto da Cidade Universitária. Deste modo, segundo ela, “eu teria algum tempo para achar um quarto de estudante ou um estúdio para alugar”. Deixou-me umas louças, panelas, o carrinho que na época as pessoas chamavam de “pote de iogurte” e se foi.

Era o segundo trimestre de 1969. Lembro-me até hoje quando eu, com a minha recém-tirada carta brasileira de habilitação, voltava do aeroporto de Orly aonde a tinha levado assim como a todas as malas dela. Quase não conseguia enxergar o caminho de tanto que as lágrimas corriam pelo meu rosto. Estava sozinha no mundo pela primeira vez. Hoje, os jovens não querem mais sair da casa dos pais. Para meu irmão, que veio em seguida estudar em Londres, e para mim, isso era uma questão de “honra”. Por isso ficamos independentes tão cedo.

Maravilha da vida!

Ainda tentava me adaptar à nova situação, quando soube que a minha mãe esquecera de pagar a conta do telefone. O pouco dinheiro que eu recebia e depois também ganhava arrumando o consultório de um médico, não dava para cobrir os telefonemas todos que ela tinha feito ao Brasil. E o proprietário não era qualquer um. Tratava-se do irmão de Bóris Vian, o poeta. Por sorte, ela encontrou uma maneira de me mandar a soma e lá fui eu com o envelope à casa de M. Vian que, pelo visto, devia ser escritor.

Era 20 de julho. Mal imaginava eu em que dia estávamos! Toquei a campainha e M. Vian respondeu mal-humorado: “Agora não posso, volte mais tarde”. Ao ver a minha decepção deve ter ficado penalizado pois mudou de ideia: “Bem, pode entrar. Mas aguarde um pouco, pois estamos muito ocupados”. Do hall eu via a televisão ligada e o sofá onde ele e a mulher sentavam-se. Penso que se sentiram constrangidos em me deixar ali plantada pois logo foram me convidando para sentar também. As imagens eram impressionantes e me deixaram muito emocionada. Foi assim, num gasto sofá de veludo vermelho, entre monsieur e madame Vian, com o envelope do pagamento da conta do telefone no colo, que eu vi – “maravilha da vida”! – Neil Armstrong, Michael Collins e Buzz Aldrin pisarem na Lua pela primeira vez.

Tudo ‘mixugui’…

Mas foi também naquele exato instante, do outro lado do oceano, que minha mãe, minha avó e a querida Madalena, católica praticante, nossa caseira há quarenta anos, arregalaram os olhos diante da televisão na biblioteca aquecida da Casa do Telhado Verde, em Campos do Jordão. Pela janela avistava-se o jardim ainda coberto pela geada matinal. Faltava pouco mais de uma semana para que as férias de inverno na montanha terminassem. Madalena fez menção de sair, dizendo que aquilo era invenção.

“Venha aqui, Madalena! chamou a minha avó. É verdade, sim. Olha aqui eles pisando na Lua! Estão até espetando a bandeira dos Estados Unidos! Está vendo?

“Tudo ‘mixugui’*… Claro que estou vendo! Vejo, mas não acredito.”

 

 

*Adaptação do 14° capítulo de meu livro “Direi Tudo e Um Pouco Mais”, Coleção Paralelos – Editora Perspectiva (2017)

**Meschuge ou meschugener, ídiche, lunático.


E a Lua é plana?

 

 

Álbum de fotos da exposição no Grand Palais, em Paris (clique para ver em slide show)

 


Os trailers da exposição

 

 

 

Até a próxima que agora é hoje e não deixe de visitar também “A Lua da Terra”, o site oficial da Nasa!