Como nos tornamos críticos de arte

 Uma leitora escreveu perguntando algo que me inspirou uma certa urgência em responder. Ela queria saber como me tornei crítica de arte e jornalista, antes de ser curadora. Achei que foi uma boa pergunta, menos por narcisismo do que por uma real vontade de transmissão, porque esse tipo de destino nunca é muito evidente. Você pode decidir que vai ser médico, arquiteto ou engenheiro, mas nunca vai acordar um dia, se olhar no espelho e dizer “vou ser crítico de arte”. Para começar, o nome já não é muito simpático e depois, o que é que a gente estuda e faz para ser crítico? Na minha época, o máximo que se podia seguir dentro do sistema regular de ensino, era história da arte. E arte tem mais de cinco mil anos, então como é que se recupera o tempo perdido? Hoje já existem cursos especializados nas universidades, o que, evidentemente, não é suficiente para fazer de alguém um crítico, mas ajuda a saber que crítica de arte não é apenas “dar opinião”. É, antes de mais nada, servir como colaborador intelectual do artista, seu mediador privilegiado na relação com o público.  Por tudo isso, e pelo fato de que a minha história em particular é muito engraçada, resolvi contá-la.

Se o querido leitor sentir curiosidade em saber quem são as pessoas nesta foto de 1974, o mistério desvela-se no final do artigo.

Na verdade, o (bom) crítico é uma espécie de xamã que se comunica com o mundo “sagrado” da arte para trazer às pessoas os seus bons e maus presságios. Coisa para a qual apenas a história da arte não é suficiente, sendo que são necessários vários e diferentes campos de conhecimento e prática.

Penso que, assim como os psicanalistas desenvolvem-se a partir da própria neurose (precisam sofrer mentalmente o suficiente para procurar ajuda e tornarem-se eles mesmos terapeutas), alguns críticos de arte provavelmente devem se formar tomando por base o desafio de conformações não raro estranhas à sua sensibilidade.

Analisar o incógnito é uma forma de enfrentar o medo que ele causa. No futuro, talvez eu sentisse que era muito perigoso entrar na subjetividade das obras – colocar em confronto as minhas particularidades e a dos artistas – sem instrumentos contemporizadores da mediação crítica como, entre outros, a língua, história, filosofia, semiologia e mesmo a psicanálise… Eis mais uma razão porque, para a crítica, apenas a história da arte não é suficiente.

Por tudo isso, e pelo fato de que a minha história em particular é muito engraçada, resolvi contá-la.

Como já escrevi neste artigo comemorativo do centenário da Folha em fevereiro deste ano, quando eu era criança, para poder ficar comigo, o meu avô materno de quem fui a primeira neta, me carregava para todos os lados: banco, escritório, jogo de futebol (cheguei a ser até mesmo mascote do time que ele formou). E, como ele era diretor da Galeria das Folhas, me levou também ao prédio da Folha de S. Paulo, na Alameda Barão de Limeira, em cujo hall, atrás de vidros, funcionavam as imensas rotativas do jornal. Elas faziam muito ruído e a menina que eu era, viu e imaginou, extasiada, todo aquele papel impresso sendo lido por milhares de pessoas. Acho que, depois daquela emoção, nada mais me impressionou. Só de pensar, ainda sinto arrepios. É possível que, naquele momento, resolvi que amaria jornal.

O tempo passou, morreu o meu avô e fui viver sozinha para estudar em Paris. Na volta ao Brasil, ainda muito jovem, tentei produção e montagem de cinema, escrever sobre cinema em revistas, fazer tradução do francês, ser secretária editorial. Fiz tudo isso, porém nada me apaixonava realmente. Procurava ainda o meu caminho, quando ouvi que a colunista social do jornal Última Hora precisava de um assistente.

Apresentei-me. O jornal ficava no prédio da Folha e, também como já escrevi, quando passei pelo hall do elevador, meu coração disparou. Benditas rotativas que davam aquela impressão de estar apaixonada. Nem gente eram… Mas a colunista pareceu muito feliz pois, entre todos os candidatos, fui eu quem ela escolheu, apresentando-me na mesma hora ao diretor. E o diretor era Samuel Wainer (1910 -1980), um dos maiores jornalistas que o Brasil já teve. Assim eu entrei para o jornalismo. Passando em frente das rotativas da minha infância.

Mas a parte mais engraçada vem agora

A história, que ainda não escrevi neste blog, vem agora. A colunista era uma pessoa muito generosa, simpática e efusiva, com o seu espírito mediterrâneo. No entanto, muito ocupada. Chegava perfumada e elegante à redação, telefonava e tomava notas. Depois de uma hora me entregava uma folha de caderno toda rabiscada num português dos diabos e ia embora. Eu tinha, nada mais, nada menos, que transformar aquelas garatujas em coluna diária! Foi o que fiz durante semanas mas, como sempre gostei de arte, a coluna dela aumentou um pouco de nível. Eu colocava dentro todos os vernissages e acontecimentos artísticos e culturais da cidade.

Um dia ela resolveu fazer um cruzeiro de navio. Me passou um monte de convites, a sua caderneta de telefones e disse: “Sheila, você já está com prática, conhece a sociedade e sabe como fazer a coluna. Agora vire-se, que eu vou tirar férias!” Não me lembro se fiquei contente ou assustada, mas o fato é que deixei de lado os convites e a caderneta, e transformei o espaço da coitada em uma coluna cultural.

O telefone tocava, as dondocas rejeitadas reclamavam, os homens de negócios pediam para falar diretamente com Samuel Wainer, mas acho que ele estava tão ocupado com outras coisas que eu reinava como queria. Exposições para cá, entrevistas com artistas e escritores para lá, comentários de eventos culturais. De “sociedade”, só um pouquinho, para disfarçar…

Na volta do cruzeiro, a colunista entrou na redação, me fuzilou com os olhos e foi direto à sala do Samuel. Depois de quinze minutos, ele mandou me chamar. “Pronto! pensei. Acabou-se o que era doce. Agora vou ser despedida”. E fui. O Samuel me despediu na frente dela, que saiu vingada e triunfante da sala.

Quando me levantei para sair também, Samuel Wainer fez um gesto com a mão e me pediu para sentar. Disse ele:

“Já que você foi despedida e agora está livre, aceita fazer uma coluna diária de artes plásticas aqui no Última Hora?”

“Mas, Samuel, não sou crítica de arte!”

“Você é crítica de arte, sim. Apenas não sabe disso. E também não precisa saber, porque quem descobre as vocações e decide as coisas aqui, sou eu.”

A experiência naquele jornal – antes de eu ser chamada pelo editor Adilson Mion para trabalhar no Estadão, e ver meu trabalho aprovado pelo diretor de redação Fernando Pedreira, em 1974 – foi mais do que uma universidade. A redação, formada e dirigida por Samuel Wainer, nunca será esquecida por quem trabalhou lá naquela última fase brilhante do famoso cotidiano. Alguns, como um poeta português e muitos outros*, já morreram. Mas se você perguntar a dezenas de escritores, cineastas, jornalistas, polemistas, diretores de teatro, cartunistas, artistas, humoristas, críticos, dramaturgos, universitários, atores, cantores, músicos, o crème de la crème da vida intelectual e artística paulistana** – entre tantos, ainda, que apenas visitavam a redação*** -,  todos certamente dirão a mesma coisa: naquela época, com Samuel Wainer, nós éramos felizes e não sabíamos.

Até a próxima que agora é hoje e, já que é para revirar antiguidades, na foto acima estão, da esquerda para a direita: Cacá Diegues, Nara Leão, Samuel Wainer, esta crítica, Jorge da Cunha Lima, a famosa “Dona Laura” da boate La Licorne na Major Sertório, e o cartunista Geandré!


Alberto Dines, João Apolinário (pai de João Ricardo, fundador do Secos e Molhados), Carlos Nicolaewski e Plinio Marcos .

**  Mário Prata, Antônio Torres, Jorge da Cunha Lima, Valéria Garcia, Maria Helena Amaral, Geandré, Ignácio de Loyola Brandão, Armando Ferrentini, Antonio Contente,  Benedito Ruy Barbosa, Renato Pires, Lygia Fagundes Telles, Arley Pereira, Roberto Guzzo, Gilberto di Pierro, Ed Motta, Clarice Herzog, Marco Antonio Rocha, Eloy Santos, Lula Vieira, Marilda Moreira, Sergio de Andrade (Arapuã), José Carlos Stabel, Wilson Loduca e Dorian Jorge Freire, Jean Claude Bernadet, Artur da Távola, Milton Coelho da Graça, entre outros.

***  Ney Latorraca, Nuno Leal Maia, Nara Leão, Cacá Diegues e muitos mais.


Jornalistas e Escritores contam a História:

 

Depoimento de Samuel Wainerao repórter Wianey Pinheiro
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40 anos escrevendo e fazendo a História

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Arquivo Público do Estado de São Paulo

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A morte de Samuel Wainer


Samuel Wainer nasceu na Bessarábia, por Mário Prata


Minha razão de viver, Samuel Wainer


A festa do Bob, por Mário Prata


O princípio de Sheila, por Antonio Contente

 

 

Portinari: antissemita ocasional?

O respeitável único filho de Candido Portinari (1903-1962), fundador e diretor-geral do Projeto que leva o nome de seu pai, publicou em rede social o cartaz desenhado pelo artista, militante durante a Segunda Guerra Mundial, contra a ameaça nazifascista, parecida com a que hoje paira sobre o Brasil. Muito bem. Historicamente, a analogia é pertinente. Mais tarde, Portinari esteve até mesmo em Israel, pintou o povo judeu e seus costumes, viagem e estadia pagas pelo governo israelense. Mas, o que estaria por trás desta “imagem pública” do artista?

Cartaz militante de Portinari, na época do nazismo, durante a Segunda Guerra Mundial

O que ninguém descobriu até agora, eu tampouco, é que Candido Portinari parece ter tido laivos de antissemitismo enrustido em certas caricaturas que desenhou nos anos 1950. As ambiguidades, bastante características da época, talvez um dia serão descobertas por críticos e pesquisadores mais jovens. É possível que ele, artista que, na minha opinião, não tem a estatura que lhe dão, tenha sido um “antissemita ocasional”, um tremendo preconceituoso assim como o foi Gilberto Freyre e Mário de Andrade, porém não um “antissemita oficial” e virulento como os monstros do integralismo brasileiro.

Isto era comum entre certas pessoas que faziam parte da elite intelectual, não só no Brasil. Nos anos 1930, 1940, e ainda nos 1950, entraram “na onda” da imagem estereotipada do judeu, repisando os cacoetes do antissemitismo que se espalhara pela Europa, durante e depois da Segunda Guerra Mundial. Hoje as vemos como uma espécie de “papagaios” racistas.

Certamente, não é o caso de tecer paralelo com o expressionista alemão Emil Nolde, um dos maiores do seu tempo, cuja obra, aliás, aprendi a olhar na minha juventude com a inesquecível historiadora e crítica de arte Lisetta Levi. Nolde – isto só soubemos há pouco – não foi um antissemita “oficial”, apenas virulento. Tanto que Angela Merkel retirou as suas pinturas da Bundeskanzleramt, a chancelaria alemã. E tornou-se adepto inveterado do nazismo, apesar de sua obra ter sido considerada “degenerada” e proibida pelos próprios nazistas. Fascistas tem contradições e razões que a própria razão desconhece.

O antissemitismo de Portinari é uma suposição

É possível que quem não tenha experiência com a estética antissemita de certas épocas, não perceba nada. Pois eu vi exatamente igual gênero de desenhos numa exposição sobre “arte e caricatura antissemitas” no fantástico Museu de Arte e História do Judaísmo (MAHJ), em Paris. O mesmo museu, aliás, que já mostrou Lasar Segall e, há alguns anos, organizou uma exposição sobre Helena Rubinstein, onde o retrato dela, feito por Candido Portinari, estava presente. Ao descobrir e ficar chocada com as horrendas caricaturas deste artista, para mim, o antissemitismo dele tornou-se uma justa suposição.

Suposição esta, reforçada pela sugestão de um amigo querido para eu olhasse o livro Portinari amico mio, cartas de Mário de Andrade a Portinari, organizado por Annateresa Fabris. Efetivamente, parece que há duas cartas em que o poeta toca no assunto. Numa delas, Mário de Andrade (1893-1945) disse a Portinari: “judeu é uma raça com que não me acomodo.” As caricaturas de Portinari foram feitas alguns anos depois da morte de Mário de Andrade, mas mais racista do que essa frase, é difícil encontrar.

Em outra correspondência, comentando os retratos que Portinari e Lasar Segall haviam feito dele, Mário de Andrade escreveu: “Como bom russo complexo e bom judeu místico Segall pegou o que havia de perverso em mim. (…) A parte do Diabo. Ao passo que Portinari só conheceu a parte do Anjo.” Não é à toa que “não se acomodava” com pessoas que enxergavam quem ele era.

Parece que Mário de Andrade defendeu Lasar Segall, nos anos 1930, na apresentação do catálogo de uma de suas exposições. A defesa foi resposta direta à uma reportagem difamatória e antissemita publicada pelo jornal “A Notícia”. Porém, antes ainda de ler aquele texto, algo me diz que existe uma ambiguidade, ou talvez até mesmo falsidade, na posição de Mário de Andrade. Claro que ele, um homem com tal inteligência, não poderia ter concordado com uma difamação ou um selvagem ataque frontal. E Segall, apesar de judeu, era o amigo que, ademais, fizera o seu retrato.

Sinto muito por seu filho. Penso que, na verdade, Portinari foi um grande oportunista. Capaz de receber cartinhas antissemitas, fazer caricaturas maldosas de judeus e, ao mesmo tempo, um retrato “embelezador” de Helena Rubinstein, a judia milionária que ele bajulou porque seria pago a preço de ouro.

Helena Rubinstein (1872 – 1965), aos 67 anos. Retrato de 1939, bastante rejuvenecido por Cândido Portinari e doado por HR ao Museu de Arte de Tel Aviv, Israel. Foto: S.L., realizada na exposição dedicada à empresária, no Museu de Arte e História do Judaísmo, em Paris, em junho de 2019.

 

A escultora Felícia Leirner (1904-1996) aos 52 anos, não menos bonita do que Helena Rubinstein, porém maldosamente caricaturada e envelhecida por Candido Portinari, em 1956.

Minha avó Felícia, contou-me as “boas lembranças” que tinha da viagem com meu avô Isai no navio Augustus que os levou à Itália, junto com Portinari, sua esposa Maria, Di Cavalcanti e outros. Maledicência nunca foi coisa do seu feitio.  Tenho as fotos da XXVIII Bienal de Veneza, destino do percurso, onde se dava a exposição coletiva da delegação brasileira, visitada na ocasião pelo presidente Giovanni Gronchi (1887-1978). Ela e meu avô, aos 52 anos, estão radiantes e elegantes.

Felícia havia exposto na III Bienal de São Paulo e recebido o prêmio de aquisição do MAM do Rio no ano anterior e, em 1956, não expôs em Veneza. Alguns dos artistas da delegação brasileira – cujo comissário foi Sérgio Milliet, amigo de meus avós – faziam parte do grupo figurativo apoiado por eles, que depois protestariam contra o novo júri da IV Bienal de SP, acusado de cortar os figurativos e privilegiar os concretistas. Aquela foi a época da ruptura de meu avô com a Bienal de SP (ele era diretor-tesoureiro do MAM/SP que organizava a Bienal), e da criação do Prêmio Leirner – início da futura Galeria das Folhas, da qual ele seria fundador e parte deste grupo de artistas participaria.

Além de visitar a Bienal de Veneza, o objetivo principal de meus avós, portanto, era prestigiar a representação nacional na sala do Palácio Central, composta por Hector Carybé, Emiliano Augusto Di Cavalcanti, Marcelo Grassmann, Renina Katz,  Fayga Ostrower e Aldemir Martins que, aliás, recebeu o grande prêmio internacional de desenho concedido pela Biennale. Provavelmente, o objetivo de Portinari, que também não participava da representação, era o mesmo.

Tanto no “retrato” horrendo de Felícia quanto na caricatura lamentável de Isai, desenhada no papel do navio da “Sociedade de Navegação Genova”, não há data nem assinatura. Foi Maria Portinari quem chancelou os desenhos pertencentes ao acervo do Projeto Portinari, reconhecendo o ano, local e a autoria. Um artista não assinar e não datar um desenho, mesmo que seja uma “caricatura”, é atitude típica de quem sabe que o que está fazendo é desprezível e não deve deixar evidências.

O colecionador e mecenas Isai Leirner (1903-1962), maldosamente caricaturado por Candido Portinari.
Inauguração da XXVIII Bienal de Veneza, 19 de junho de 1956. Felícia e Isai Leirner, com o presidente da Itália, Giovanni Gronchi.
Inauguração da XXVIII Bienal de Veneza, 19 de junho de 1956. Felícia e Isai Leirner, com o presidente da Itália, Giovanni Gronchi. Ao fundo, tela de Di Cavalcanti.

As experiências contemporâneas clarificam a História

Há 10 anos, numa entrevista à uma revista, um historiador e professor me perguntou “se podemos pensar em outros períodos tão férteis e importantes como o Modernismo, que é um marco na história da arte brasileira.” E questionou “se eu não achava também que o excesso de respeito atribuído a ele (talvez pelo vício nacionalista) acabasse por silenciar artistas do mesmo período, talvez mais importantes e radicais que Di Cavalcanti, Tarsila e Portinari, os mais glorificados”, citando, “como exemplo, Guignard e Flávio de Carvalho.”

Achei ótima a pergunta.  E respondi que não é apenas o passado que lança luz sobre o presente. Disse que são sobretudo as experiências contemporâneas que clarificam a História. Isso é o que o fazia citar, com muita razão, Guignard e Flávio de Carvalho.

Com a distância de hoje, sem dúvida podemos dizer que existem períodos tão férteis quanto o do Modernismo, nos anos 1950, 1960,1970 e mesmo 1980. Para julgar as décadas subsequentes, acredito que será preciso esperar um pouco mais. Entender estes períodos e seus artistas com o olhar e a experiência de hoje, nos faz ver melhor – e mais criticamente- um Portinari ou um Di Cavalcanti.

E afirmei a ele que, apesar de tudo, por vezes tenho a impressão de que certos historiadores, não tanto por nacionalismo quanto por medo de questionar um status quo, congelam os momentos históricos de maneira a impedir toda e qualquer analogia ou prospecção. Não há questionamento, não há dúvidas.

Além disso, o trabalho universitário muitas vezes é tão focado em minúcias que a visão e a perspectiva generosa e dinâmica de um movimento artístico dão lugar à uma certa “fossilização”. A crítica de arte não universitária utiliza livremente, não apenas a história, mas todos os instrumentos que têm à mão, como a sociologia, filosofia, psicanálise, literatura etc. Um dos trabalhos desta crítica seria justamente ajudar a sair desse “excesso de respeito” como afirmou o meu entrevistador.

Até a próxima, que agora é hoje, não sou “revisionista”, não quero “cancelar” ninguém, como as patrulhas tipo anti-Monteiro Lobato, mas todos os “mitos” devem ser revistos, estética e eticamente, sim. A começar pelo atroz que nos governa, chegando, em marcha a ré, a certos “históricos” e discutíveis “bons artistas”, como Candido Portinari, que podem não ser mais do que a representação vazia do “senso comum”, a imagem completamente idealizada do nosso passado!