Um colunista que precisa pedir desculpas. E já!

Duvido que a coluna de Luis Fernando Verissimo, do dia 1, no Estadão, publicada igualmente em papel, esteja em acordo com este órgão de imprensa exemplar que conheço desde criança, e onde comecei a escrever há 43 anos, quando o diretor de redação era Fernando Pedreira. Não acredito que expresse, nem de longe, a opinião de um jornal que, sob a direção de Júlio de Mesquita Neto e Ruy Mesquita (JT), passou pelas piores fases da ditadura, sempre defendendo com objetividade a justiça e os direitos do homem, abominando preconceitos e parti pris ideológicos.

Sede do Jornal O Estado de S. Paulo (1951-1976) Arquivo/Estadão

A coluna em questão deste escrevinhador de 82 anos, é ultrajante. Liberdade de expressão não é isso. Luis Fernando Verissimo certamente não é nenhum Flaubert, mas segundo a Wikipédia é também humorista, cartunista, tradutor, roteirista de televisão e autor de teatro, já foi publicitário, revisor de jornal e toca saxofone. Ainda segundo a mesma fonte “ele tem mais de 60 títulos publicados, é um dos mais populares escritores brasileiros contemporâneos, e é filho de…”  Está explicado. Ninguém é “filho de”, impunemente.  Tem que se esforçar muito!

Mas a coluna dele é ultrajante em vários aspectos. Em primeiro lugar desrespeita a escolha da maioria, julgando-a sob ideias preconcebidas que só podem ser provadas com pesquisa, estatísticas e estudo. Verissimo “afirma” em vez de “apresentar como hipótese” que “o ódio ao PT foi maior que o amor pela democracia”. Não é uma certeza. Aqui, tanto “ódio”, quanto “amor” e “democracia” podem ser questionados em todos os níveis, inclusive na sua convicção de que o governo petista preservaria a democracia e o governo bolsonarista, não.  Também não é uma certeza. E a desonestidade intelectual já se inicia desta maneira.

Mas o que o colunista condena principalmente é a “omissão”. Acusa a preterição (legítima, diga-se de passagem) dos políticos e o verdadeiro (e também legítimo) “protesto” (votos em branco, nulos e abstenção) de  42,1 milhões de pessoas no Brasil e 60% de votantes no Exterior. Pessoas para quem nenhum dos candidatos as representava. É muita gente só “para cuidar de suas hortas”, não é mesmo?

Antissemitismo às avessas

E, por fim, dá a sua contribuição que, evidentemente, cai como uma luva confortando uma espécie de antissemitismo às avessas, e transforma os petistas em “perseguidos”: “como será difícil distinguir um marginal vermelho de um cidadão normal, agora que até a direita usa barba, sugiro que se costure uma estrela vermelha na roupa dos marginais, para identificá-los”, escreve. E o colunista termina a ironia, afirmando  que “deu certo em outros países”. Só esqueceu de acrescentar “em outra época”.

É verdade que deu certo. A estrela infamante costurada na roupa – dispositivo obrigatório de identificação e discriminação imposto pela Alemanha nazista aos judeus residentes nas zonas conquistadas, durante a Segunda Guerra mundial – indicava as vítimas aos algozes. Só que aquelas vítimas constituíam um povo e uma civilização e não um partido político corrupto, em extinção. A estrela amarela não foi cosida como a imaginária “estrela vermelha” de Luis Fernando Verissimo na “roupa dos marginais, para identificá-los”. Os judeus, ao contrário de certos membros do PT, nunca foram “marginais” como ele diz, a partir do que gritou Jair Bolsonaro em seu horrível discurso. Além de que foram “cidadãos normais”, não precisavam “ser distinguidos” como sugere o colunista.

Até a próxima, que agora é hoje e estamos aguardando as desculpas deste esforçado colunista “filho de”! Sei que é difícil, mas ao ler esta frase final, por favor, não confunda com “filho da”.


Imagem de abertura: a “estrela amarela” foi um dispositivo obrigatório de identificação e discriminação, imposto pela Alemanha nazista aos judeus residentes nas zonas conquistadas, durante a Segunda Guerra mundial.


Será que ninguém percebe?

Será que ninguém vê o que está por trás dos discursos chocantes de ódio e atritos (aparentemente “já desnecessários”) entre o candidato da extrema-direita, seus acólitos e familiares?

Imagem: Eugène Delacroix, “Méphistophélès dans les airs”(O Diabo no ar), cerca de 1825.

Poucos talvez imaginam, porém está “tudo certinho”, “totalmente necessário”, “exatamente como deve ser”.  O conjunto de esforços com fim eleitoral, segue o seu curso inerente. Não é preciso ser especialista. Estes eventos são conhecidos de todos, já podemos até mesmo chamá-los de “clássicos”, em todas as campanhas populistas do mundo. Sejam elas de esquerda ou de extrema-direita.

Bolsonaro e a mundialização do mal

Ali, cada acontecimento obedece às famosas táticas de Steve Bannon, orientado em direção a alvos precisos. Este DIABO manso, “Grande Sedutor” (nome com o qual o Evangelho designa o anjo mau), hoje talvez o maior expert em comunicação do mundo, declarou há pouco na Itália, publicamente ao lado do vice Matteo Salvini, estar criando “um grande movimento (anti-sistema) de ajuda aos governos (e candidatos) populistas do planeta (Brasil, inclusive), com o patrocínio dos maiores capitais americanos e estrangeiros.” Isto, para que o “Grande Capital” possa circular livremente num mundo agora “liquidificado”, para usar o termo do filósofo e sociólogo Zygmunt Bauman.

O ‘Diabo Bannon’

É muito simples, sem disfarce, não foi escondido de ninguém e não se trata de “teoria de complô”. Mesmo que não exista ou não for provado que existe um pacto do candidato com o DIABO, o tinhoso é onipresente, está cada vez mais rico e trabalha “de graça” pois não são os candidatos que o pagam. Se você votar em Jair Bolsonaro, estará necessáriamente contribuindo com o PROJETO AMERICANO DE DESTRUIÇÃO MUNDIAL DA DEMOCRACIA, já em andamento na América Latina e Europa (cuja desintegração é almejada, claro, a começar pelo Brexit abertamente orquestrado por Bannon).

Nessa altura, como diz o provérbio chinês, quando é a lua que brilha é melhor não ficar olhando só para o dedo que a aponta. Se você votar neste candidato, não é só o PT que estará atingindo. O PT não vale nem uma migalha do pão que o DIABO amassou. Até a próxima, que agora é hoje e… pense nisso.