245 milhões de cristãos são perseguidos no mundo

Não passa uma semana sem que eu receba do Brasil alguma mensagem de propaganda ou boato por e-mail ou WhatsApp com falsos dados, exageros e às vezes até mesmo imagens e vídeos enganadores sobre uma ‘suposta perseguição de judeus’. Como moro na França, por ‘bondade dos missivistas’, geralmente é este país que eles apontam. Não que não existam aqui, de fato, sobretudo nos subúrbios, ignóbeis atos antissemitas e de vandalismo isolados, como aliás em toda a Europa. Estes contam-se, por ano, nos dedos das mãos e são, sem exceção condenados pelo governo, controlados e, é claro, objetos de enquete policial. Por outro lado, só no ano passado, 4,305 pessoas inocentes foram assassinadas no mundo apenas por praticarem a fé cristã. Nem os primeiros séculos viram tantos mártires. Perto da verdadeira (e praticamente ignorada) perseguição que sofreram 245 milhões de cristãos só em 2018, número que aumenta dia a dia de modo assustador, o que pensar? Certamente nada que tenha a ver com o ponto de vista distorcido do Ministro das Relações Exteriores do Brasil. Hoje, dia 24, data nacional decidida pelo presidente Macron para marcar a memória do genocídio armênio, é bom trazer estes fatos à tona e apontar o que realmente deve ser denunciado.

Imagem: “A jovem mártir”, Paul Delaroche, 1855. (Uma cristã, jogada ao rio pelos romanos por não ter abjurado, é descoberta por outros praticantes). Departamento de pinturas, Museu do Louvre.

A França reconhece o genocídio armênio desde 2001, porém é pela primeira vez que esta data marca o dia em que 600 intelectuais armênios foram assassinados em Constantinopla por ordem do governo, em 1915. Foi o início de um massacre que tirou a vida de 1,2 milhões de pessoas, dois terços do armênios do Império otomano.

As perseguições contra os cristãos no mundo não cessam de aumentar. É o que observa a associação Portas Abertas, fundada em 1955, e que publica a cada ano o índice mundial de perseguição. O índice de 2019 mostra que entre o dia 1 de Novembro de 2017 e 31 de Outubro de 2018, 245 milhões de cristãos foram fortemente perseguidos. O que significa 1 em 9 hoje, contra 1 em 12 no planeta em 2017. A opressão cotidiana aumentou em 16%, desde 2014, e os assassinatos também.

Sem contar o último atentado contra as igrejas de Sri Lanka, a lista dos países onde os cristãos são mais perseguidos por meio de violências físicas, materiais e discriminações cotidianas, é a seguinte:

  1. Coreia do Norte (em 1° lugar, desde os anos 2000)

  2. Afeganistão

  3. Somália

  4. Líbia

  5. Paquistão

  6. Sudão

  7. Eritreia

  8. Iêmen

  9. Irã

  10. Índia

Na Coreia do Norte, hoje, entre 50 e 70 mil cristãos são prisioneiros em campos de trabalho forçado. No Afeganistão, a pressão familiar e tribal é comparável àquela de um Estado totalitário, enquanto que a Somália tornou-se uma roda giratória do terrorismo islamista. Claro, o extremismo islâmico não raro é fator agravante.

China: PCC quer que ‘a Igreja atenda às suas exigências’

"Martírio dos dez mil Cristãos", gravura de Albrecht Durer. Reserva Edmond de Rothschild
 © Musée du Louvre, dist. RMN-Grand Palais - Photo Ph. Fuzeau
“Martírio dos dez mil Cristãos”, gravura de Albrecht Durer.
Reserva Edmond de Rothschild
 © Musée du Louvre, dist. RMN-Grand Palais – Photo Ph. Fuzeau

Há países que não estão na lista, onde a violência é aterrorizadora, como a Nigéria onde está o grupo islamista Boko Haram. Ali, também agrupamentos de nômades atacam as cidades cristãs que encontram em seu caminho. Já a China detém o triste recorde em detenções: 1.131 pessoas inocentes, apenas porque são cristãs, foram presas e/ou estão encarceradas desde o ano passado. Em Xinjiang, 6 mil uigures – povo nem sempre muçulmano, de origem turcomena que habita sobretudo a Ásia Central – foram enviados para “campos de reeducação”. O Partido comunista chinês (PCC) quer que “a Igreja atenda às suas exigências.” Um processo “sinológico” está em marcha. os chineses controlam e identificam os praticantes católicos ou protestantes por meio das novas tecnologias.

Na Argélia, igrejas foram fechadas e coloca-se em questão o reconhecimento legal da Igreja protestante. Na Índia, as perseguições tomam feições inéditas: os cristãos são intimidados e atacados por extremistas nacionalistas. Estes existem há meio século, mas acentuaram-se com o governo de Narendra Modi. Os nacionalistas querem uma nação 100% hindu.

Até a próxima, que agora é hoje, hora de apresentar os argumentos certos a quem nos envia lorota sobre “perseguição étnica”!

 

Índice mundial de perseguições de cristãos em 2019

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